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Publicado em 17/03/2015 às 09h17
Branco Sai, Preto Fica é documentário fantástico sobre apartheid em Brasília
O fato histórico é real – uma operação policial em um baile de black music na Ceilândia em 1986, na qual diversas pessoas ficaram feridas. Os personagens também são reais. Marquim do Tropa tornou-se paraplégico ao levar um tiro no incidente; Shockito perdeu a perna ao ser pisoteado pela cavalaria. Mas Branco Sai, Preto Fica, de Adirley Queirós, com estreia nesta quinta (19), é, na verdade, uma mistura única de documentário com drama, agregando toques de ficção científica e realismo fantástico. É um documentário fantástico, digamos.
O longa-metragem levou uma enxurrada de prêmios no Festival de Brasília em 2014 – 11, incluindo melhor filme. Internacionalmente, ganhou em Mar del Plata (melhor filme) e foi exibido em Viena e no Doc Lisboa, entre outros. Trata-se de um passo a mais na consistente trajetória de Adirley Queirós, um cineasta de Ceilândia que marca sua produção pela crítica social e pela forte ligação com seu território. Foi assim com A Cidade É Uma Só?, também uma ficção com lances documentais que criticava as campanhas políticas no Distrito Federal.
Só que agora, em Preto Sai, Branco Fica, tudo está mais contundente. E melhor.
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Eis que surge, então, vindo de outra galáxia, o desbravador Dimas Cravalanças (Dilmar Durães, também de A Cidade É Uma Só?). Ele vem teletransportado de 2073 para os dias de hoje para investigar a denúncia de que a polícia da nossa época subjulgava a população periférica (ah, será?). Sua missão é reparar esse erro histórico.
Enquanto isso, Marquim constrói uma bomba para jogar sobre o plano piloto. No filme, a Brasília dos cartões-postais é vista como um local distante e praticamente inacessível: é preciso passaporte para entrar lá.
A estética tosca do filme contribui para uma pitada cômica, mas ao mesmo tempo reforça a verossimilhança. A nave espacial de Marquim parece um ralador de queijo gigante. A nave espacial de Dimas é um container pousado em um descampado. A escada para cadeirante da casa de Marquim é um primor de engenharia.
Apesar de todos esses recursos fantásticos, o filme é todo verdade. Há verdade nos personagens, que ficcionalizam suas próprias histórias reais, e que nos oferecem falas críveis e pouco roteirizadas. Há verdade nas locações hiper-realistas de uma Ceilândia de terra batida e construções precárias. E, principalmente, há verdade na crítica social e no apartheid que o filme aponta. Afinal, quando a polícia chega a um recinto para uma blitz, todo mundo sabe mais ou menos o que vai acontecer: branco sai, preto fica.
Branco Sai, Preto Fica
Brasil, 2014. 90 minutos. Direção: Adirley Queirós. Elenco: Marquim do Tropa, Shockito, Dilmar Durães, DJ Jamaika e Gleide Firmino. Estreia no circuito comercial de cinemas: 19/3/2015. Classificação indicativa: 14 anos.
(Por Marcelo Bauer)
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